PASSADO SAUDOSO

PASSADO SAUDOSO

 

Não quero ser aceito,

Mas cobro a tolerância,

Pois quero seu respeito,

E não a sua lambança.

 

O inferno já está cheio,

E eu sei desde a infância,

Mas não tenho receio,

Pois não sou eu na dança.

 

A estrada tem só o meio,

Que hora trás e hora lança,

Sem dizer para o que veio,

Mas tem um dia que cansa.

 

Assim eu busco por um espelho,

Entre todas minhas lembranças,

Querendo bem mais os conselhos,

Que permeiam torso e tranças.

 

O passado é tão saudoso,

E onde criei minha cultura,

Sem a tv, mas foi gostoso,

Fazendo carro e escultura.

 

Tínhamos lata e boas tábuas,

Como as sobras dos tecidos,

Com os cachorros vira-latas,

Sem ter maçã, mas bons amigos.

 

O algodão, só se eu plantasse,

Bem como a luz quis lamparina,

Fui à escola, sem que mandassem,

Para não ter uma vida Severina.

 

Quem não cuidou foi Malazarte,

Descendo ao sul pra trabalhar,

Porque a seca comprime a arte,

Causando a fome em cada lar.

 

Como ter festa e pança cheia,

Se não tem água nem pra plantar,

Enquanto o vento só serpenteia,

Nos sacudindo no mesmo lugar.