Janelas da Alma
O quarto sombrio e o terceiro olhar.
No pequeno quarto o relógio toca o pêndulo,
Os ponteiros retardam como se quisessem
Aguçar o etério instante.
O sono não vem e em partes me reparto,
E em outras me perco, contorso-me e penso.
No quarto silencioso onde tudo vem à tona,
Fico a buscar o rio que o mar levou.
As passadas do passado multiplicam-se
Sucessivamente, assombram e indagam.
Aquele ser pragmático se projeta,
Se materializa nos recantos, nos livros,
Nas paredes frias e mal pintadas.
As horas teimam em não passar
E o Terceiro olhar espelha os anos.
E por mais que se diversifique a caminhada
Por entre as passadas da vida, existe,
Persiste aconchegar-se à memória e ao coração;
A registrar cheiros, sensações, gestos
Em que, em dado momento, uma das janelas,
Janelas da alma insisti em trazer de volta,
Na lentidão das horas, na insônia da madrugada, alguém.