SOLITARIAMENTE
Não mais que de repente,
em incoativo compasso,
a noite vai tatuando
seus escuros
na moldura do luar.
A atmosfera veste-se
de um breu silencioso,
encardido de mistérios
e de outras sombras notívagas.
Em cada espasmo
de escuridão
vão se ouvindo gritos,
aos poucos
se definham em sussurros,
amordaçados em medos
e negras inquietações.
Tudo conspira
em favor das trevas.
O chirriar da ave
dá o tom do negror.
Enquanto
o céu arqueja
sob o manto preto,
o homem
sangra
o véu nebuloso
do tecido demarcado
pela opacidade
do firmamento.
Procura algo de si,
busca encontrar
o que há de perdido
em cada madrugada.
Será a paz
ensurdecedora,
nativa das almas
sonâmbulas
que vagueiam
famélicas
como mariposas
nos rituais
das suas
fototaxias lunares ?
O homem segue
com sua tíbia luz
ao encontro
das respostas
de cada lua
que se descortina
Não sabe ao certo
o que encontrar,
mas desafia a noite,
insone,
eternamente febril...
Precisa prosseguir
antes que ela
o devore,
e o traga
para dentro de si.
Afinal de luz em luz,
a lua anseia se alimentar
das lanternas, candieiros,
e outras fogueiras
que deixamos cair
no tapete que o mar
reflete e
serve de guia
para cada
solidão.