DILEMAS DA FOME DE SER

DILEMAS DA FOME DE SER

 

Cada vez mais o mercado seduz,

Nas cores que escondem as fotos,

Pelos verbos que não nos traduz,

No engodo da troca dos copos.

 

Quem bebeu no bar com estranhos,

E acordou sem saber onde esteve,

Terá só a incerteza dos sonhos,

Desde um antes de fome ou sede.

 

Se um quadro propor conjecturas,

Ou até ver a Mona Lisa sorrir,

Vão dizer que é prisma e loucuras,

Pois a luz vai dizer quando eu vi.

 

Todo humano, deposto do instinto,

Vive devendo ao que nem imagina,

Ou morre bem antes de um desatino,

Com a expressa fadiga da angina.

 

Somos medonhos insetos do nada,

Desde que o céu não se revela,

Mas a poeira me diz da jornada,

Como os cânions são fotos e tela.

 

Pela encosta eu revejo a agonia,

Da cera na vela que queima emoção,

E na erosão vejo o solo dos dias,

Como na luz há passado ou versão.

 

São os segredos de cada ilusão,

Desde meus dias andando no ermo,

Ou nas vertigens da minha prisão,

Pois não havia razão como termo.

 

Nesses dilemas que marcam a vida,

Cada dia que passa há fome de ser,

Mas o curso do rio nos convida,

A sentir que há valor em viver.