Pássaro Ferido II
Mordo tuas orelhas como a lua morde as
azeitonas nas oliveiras, roça o veludo que
envolve a polpa e as amassa devagarzinho
até deixar ali a sua marca
Beijo teus lábios, apalpo teu corpo inteiro
Sopro devagar, bem devagar, histórias de sexo
Um beijo “caliente” me diz que não estás ausente
És ali a amiga, a confidente
Não faças confidências ao vento, ele não se
comove com o teu lamento, eu sim, sinto-te
dentro de mim, o meu amor sofre a tua dor
eu em ti e tu em mim
Ajudo-te a depor as armas, a descansar das
derrotas que tens andado a suportar, quero
ser teu chão, como um ourives transformar
teu coração num diamante a brilhar
Agora és tu, quero-te ouvir falar:
O que sabes do amor. Que sabor tem beijar alguém?
Não queiras me olhar como a contar quantos beijos
andei para aí a desperdiçar.
Deles só ficou o asco e uns sulcos que o arado fez ao
passar, qualquer dia faço uma plástica para deles me
livrar, vou também ao fim de mim para dali os tirar
Depois escrevo um poema para os exorcizar
Einstein escreveu a Freud para lhe perguntar se via
alguma possibilidade da humanidade mudar
Freud respondeu que não, a humana criatura não
aprende nem com a desventura
Cai em todas as ratoeiras, é só sabê-las armar
que bom seria se tu fosses a minha tábua de salvação
mas não, em breve, de novo, vou ficar aquele pássaro
ferido sem vontade de voar.
Lita Moniz