Pássaro Ferido
Mordo tuas orelhas como a lua morde
as azeitonas nas oliveiras.
Roça o veludo que envolve a polpa e as
amassa devagarzinho até deixar ali a sua
marca.
Sopro devagar, bem devagar,estórias de
Sexo.
Um beijo “caliente” me diz que não estás ausente.
És ali a amiga, a confidente.
Não faças confidências ao vento, ele não se
comove com o teu lamento.
Eu sim, sinto-te dentro de mim.
O sexo é assim: eu em ti e tu em mim.
Ajudo-te e depor as armas, a descansar das derrotas
que tens andado a suportar.
Agora és tu, quero-te ouvir falar.
O que sabes do amor. Que sabor tem beijar alguém?
Não queiras me olhar como a contar quantos beijos
andei para aí a desperdiçar.
Deles só ficou o asco e uns sulcos que o arado fez ao
passar.
Qualquer dia faço uma plástica para deles me livrar.
Depois escrevo um poema para os exorcisar.
Heinsten escreveu a Freud para lhe perguntar se via
alguma possibilidade da humanidade mudar.
Freud respondeu que não, a humana criatura não
aprende nem com a desventura. Cai em todas as
ratoeiras, é só sabê-las armar. Tu não passas de
mais uma ratoeira onde estou a pisar.
Em breve, de novo, vou ficar aquele pássaro
ferido sem vontade de voar.
Lita Moniz