AVENIDA E VOZ CATINGUEIRA

AVENIDA E VOZ CATINGUEIRA

 

Estava andando pela avenida,

Quando ouvi a voz catingueira,

Num sotaque de égua parida,

Arrastando a fala estradeira.

 

Tinha um sariguê se esgueirando,

À procura de voltar para casa,

Pois na fome já estava bestando,

Esperando encontrar sua amada.

 

Me lembrei do gibão e o chicote,

E um chapéu feito pelo coiteiro,

Dos jalecos de cabra ou de bode,

Pois o cheiro não é de carneiro.

 

Nesse tempo de vacas magras,

Só se pensa na vida do campo,

Porque lá ninguém vê a calçada,

Mas o por-do-sol traz encanto.

 

Lá se vê uma coruja acordando,

Pois a tarde chega com alegria,

E seu piar com pescoço rodando,

Faz a preá esconder sua cria.

 

Porque o predador tá com fome,

E se achar algo fácil ele pega,

Com as garras de bicho sem nome,

Pois o nome é um modo de regra.

 

Mas as regras o homem descumpre,

Diferente de um bicho na selva,

Pois ali não há tempo pra cuspe,

Quando a faca ou fé não é cega.