Tela Escura num Quadro Vivo
Amanheci um trapo na porta do outro.
Cortada, desbotada em mil pedaços,
Perdida, achada nas dobras do tempo,
Abro-me, leio-me nesse vão momento.
Acho-me em transe entre braços e mãos,
No quarto dos minutos me policio.
Sou eu mesma não o outro que vejo logro,
Que alarde o silêncio por entre os fios.
Olhos, bocas, ouvidos altivos, passadas.
Tudo numa tela escura, num quadro vivo,
No sul da nua rua insensatez incontida.
São pontos, marcas a afrontar a tez vencida.
Sinais de voos noturnos contemplo.
Largo-me do divã afando o caos a tempo.
Casa com janelas, portas com trincos,
Cabeça domada pela rosa dos ventos.
Acordo e tento decifrar o indecifrável
Ao pingo do meio-dia amo amo amo
E volto a dormir como um anjo amável.