COMEMORAR O QUÊ?

COMEMORAR O QUÊ?

 

Não sei mais o que comemorar,

Desde quando sou ainda escravo,

Como um galho seco de jejuar,

Tendo o couro sujo de barro.

 

Me pareço com velho obelisco,

Desde quando as eras torturam,

Como o caule sem folha e viço,

Que as saúvas nem me procuram.

 

Esquartejado como Tiradentes,

Ou seria num poço do tráfico,

Até quando só fiz descontentes,

Ante chefes de erros trágicos.

 

Despertar cada inveja e cobiça,

De quem nunca enxerga a verdade,

Vê as tendas de sheik e malícia,

Assombrando a nossa liberdade.

 

Sendo apenas o resto do líquido,

Vindo em forma de corpo delgado,

Há quem diga não ser o que digo,

Pois dei conta de cana e caldo.

 

Ao ser pequeno e cheio de riscos,

Fui nascer em pleno frio do cipó,

Quando a mata não tem mais ciscos,

Que a caatinga nos sopra em pó.

 

Hoje sou a sequela dos ventos,

Como a rocha cheia de fissuras,

Com o resguardo em cada momento,

Em um ninho de águia na altura.