Nas sombras
Nas sombras vagueia
Torpe pela dor
Que teu peito rasga
E o chão cinge
Com vermelho sangue
Que verte feito cachoeira
E bravio fere o corpo
Cuja matéria jaz morta
No sepulcro das almas
Esgueira-se entre os muros
Que a separam
Do real e o imaginário
Da felicidade de momento
Dos dias de tormento
Arrasta-se pelo chão
Derrubada pelas mãos
De com quem deitou-se confiante
Desse receber
Aconchego e alegria
Mas quase nada ela sabia
E aos poucos viu nascer
Outra ferida
Outra marca em sua vida
Tentou gritar
Fazer-se notar
Eram ensurdecidos
Pelo desejo de não a escutar
Tentou sensibilizar
Fazer-se cuidar
Eram imunes
Sentimentos petrificados
Nada à ela seria dado
E arrastando-se viu nascer o dia
Sem sair da agonia
As mãos frias
Face sem vida
Ergue o corpo fatigado
Apoia-se na realidade
Maquiagem feita
Abre a porta
Sorriso nos lábios pintado
E mesmo com o coração quebrado
Peito inundado
Morta
Espectro de alma partida
Segue de pé pela vida