QUIXOTESCO
Rasguei o ventre
da minha mãe,
para nascer
combatente
de moinhos.
Escalei penhascos,
mergulhei em abismos,
curiosas formas
de se embrenhar
num amor
arredio,
arredado
e erradio.
Lutei bravemente,
— é o que penso —
contra
ponteiros insolentes,
pintores insolventes
de um tempo
que não sabe esperar,
nas janelas e nas telas
das desilusões,
para além
das minhas azáfamas
e procrastinações.
Cultivei cada dúvida
no devido lugar da semente
ajardinando as certezas,
pacientemente,
para quando elas
resolverem se fecundar.
Férteis ou estéreis,
pouco importa!
No fundo,
a semeadura
é a escolha
dos grãos de ilusão
que espalhamos por aí.
Sei que brevemente
irei embora,
à galope,
no cavalo de Cervantes,
procurar outras aventuras.
Uma loucura melhor
que essa entediante lucidez.
Miguel afiançou companhia.
Sancho também vai.
Juntos,
nos aninharemos
em outros úteros não rasgados,
para nascer
com novos moinhos a combater,
e novas formas de sonhar.
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