QUIXOTESCO

Rasguei o ventre

da minha mãe,

para nascer

combatente

de moinhos.

Escalei penhascos,

mergulhei em abismos,

curiosas formas

de se embrenhar

num amor

arredio,

arredado

e erradio.

Lutei bravemente,

— é o que penso —

contra

ponteiros insolentes,

pintores insolventes

de um tempo

que não sabe esperar,

nas janelas e nas telas

das desilusões,

para além

das minhas azáfamas

e procrastinações.

Cultivei cada dúvida

no devido lugar da semente

ajardinando as certezas,

pacientemente,

para quando elas

resolverem se fecundar.

Férteis ou estéreis,

pouco importa!

No fundo,

a semeadura

é a escolha

dos grãos de ilusão

que espalhamos por aí.

Sei que brevemente

irei embora,

à galope,

no cavalo de Cervantes,

procurar outras aventuras.

Uma loucura melhor

que essa entediante lucidez.

Miguel afiançou companhia.

Sancho também vai.

Juntos,

nos aninharemos

em outros úteros não rasgados,

para nascer

com novos moinhos a combater,

e novas formas de sonhar.

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 06/08/2022
Código do texto: T7576244
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