PEGAR OU SENTIR

PEGAR OU SENTIR

 

Quando o homem não se envaidece,

Ele pode ser gente e ser salvo,

Pois a mente nos trai e padece,

Se há apenas ganância e descaso.

 

Mas devemos temer cada afago,

Pois nem tudo é só por carinho,

E o caráter de um homem é vago,

Se não sabe trilhar o caminho.

 

Desde quando se quer eterno,

Cada um necessita ter prumo,

Sem apenas se ver no caderno,

Onde a folha descreve o aluno.

 

Quem crê na proposta que quer,

Também lê o que pode ser cura,

Mas também ninguém tem a colher,

Com a medida da fé que procura.

 

Ver e crer nos requer uma busca,

Que nos cobra o pegar ou sentir,

Mesmo quando alguém se rebusca,

A querer tudo que se permitir.

 

Mas, talvez, crer não seja afável,

Pois denota algo somente humano,

Desde um ato mais puro e provável,

Num auto-projeto apenas profano.

 

O conflito da alma é algo eterno,

Porque ninguém volta para falar,

E tudo nos cobra quietude ou berro,

Se cada loucura só quer viajar.

 

Nossa sanidade é pura invenção,

De quem só espera poder dominar,

Dizendo qual jeito e a convenção,

Que faz o escravo não se rebelar.