FARDANTES
E se punham a dançar
freneticamente,
entoando cantos
ininteligíveis,
que acariciavam
os ouvidos das almas
e dos amantes.
E eram tantos,
e ao mesmo tempo,
um só,
em uníssona
comunhão
com a forma
divina
da criação.
Naquele cenário
de desolação,
a seca e a fome
trincavam-lhes os ossos,
curvavam-lhes o corpo,
mas o espírito permanecia
altivo,
ativo,
cativo da
esperança.
E ao ver
a procissão de regozijos,
perguntava-me,
analfabeto
da leitura daqueles homens:
Meu Deus, como pode,
haver felicidade
diante de tamanha
desgraça!?
Mal sabia
que Ele já estava
ali,
no coração
de cada um deles,
dançando,
cantando,
vivendo
a enganar a morte,
a dor e a desesperança.
Neste lôgro,
Seus filhos
eram mais do que
farsantes
ou
dançantes,
eram
"fardantes",
felizes,
com a mera possibilidade
da existência
inquietante.
E eu,
perplexo diante de tudo,
era apenas
um ignorante.