FARDANTES

E se punham a dançar

freneticamente,

entoando cantos

ininteligíveis,

que acariciavam

os ouvidos das almas

e dos amantes.

E eram tantos,

e ao mesmo tempo,

um só,

em uníssona

comunhão

com a forma

divina

da criação.

Naquele cenário

de desolação,

a seca e a fome

trincavam-lhes os ossos,

curvavam-lhes o corpo,

mas o espírito permanecia

altivo,

ativo,

cativo da

esperança.

E ao ver

a procissão de regozijos,

perguntava-me,

analfabeto

da leitura daqueles homens:

Meu Deus, como pode,

haver felicidade

diante de tamanha

desgraça!?

Mal sabia

que Ele já estava

ali,

no coração

de cada um deles,

dançando,

cantando,

vivendo

a enganar a morte,

a dor e a desesperança.

Neste lôgro,

Seus filhos

eram mais do que

farsantes

ou

dançantes,

eram

"fardantes",

felizes,

com a mera possibilidade

da existência

inquietante.

E eu,

perplexo diante de tudo,

era apenas

um ignorante.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 28/07/2022
Código do texto: T7570192
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