DETENÇA

Era tarde,

tão tarde,

os relógios

já tinha adormecido.

A madrugada abraçara

com seus tentáculos

a cintura do céu.

Estrelas demarcavam

os umbrais da escuridão.

O silêncio pactuava com o vazio.

Os cães já não ladravam,

as caravanas haviam passado.

As ladras se recolheram

detrás da lua vigilante.

Nem sequer um beijo roubado

na penumbra de algum

desaviso.

Tudo estava

sonolentamente

inerte,

até os sonâmbulos

se recusavam a vagar.

Afinal já era tarde,

tão tarde que não vi

o tempo passar,

apenas ela, insone,

viu,

passou por mim

e se dissipou

numa nuvem de chuva

errante,

deixando

cair gotas na comissura

dos meus olhos.

Quis convencer a tardia

saudade

a ser vento reverso

e sugar a fugidia nuvem

para perto de mim,

mas ela,

emprestou-se ao cansaço,

nem mesmo

o arrependimento

pôs-se a me auxiliar,

resignados estavam

em suas exaustões.

Talvez um dia

um laivo de ilusão

venha ter comigo,

isso, se ela

guardar disposição.

(...)

O tempo passou,

o regresso ficou

nos sinônimos

dos dicionários.

Restou a percepção

imperfeita

das horas gastas

numa inércia cruel,

enquanto ela

passava,

parava,

esperava,

cansava

e partia.

O que eu fiz?

Olhei para trás de mim,

os ponteiros, todos eles,

embebiam-se de um sono feroz.

Não havia mais nada o que fazer.

Já era tarde!

Tão tarde ...

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 27/07/2022
Código do texto: T7569304
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