DETENÇA
Era tarde,
tão tarde,
os relógios
já tinha adormecido.
A madrugada abraçara
com seus tentáculos
a cintura do céu.
Estrelas demarcavam
os umbrais da escuridão.
O silêncio pactuava com o vazio.
Os cães já não ladravam,
as caravanas haviam passado.
As ladras se recolheram
detrás da lua vigilante.
Nem sequer um beijo roubado
na penumbra de algum
desaviso.
Tudo estava
sonolentamente
inerte,
até os sonâmbulos
se recusavam a vagar.
Afinal já era tarde,
tão tarde que não vi
o tempo passar,
apenas ela, insone,
viu,
passou por mim
e se dissipou
numa nuvem de chuva
errante,
deixando
cair gotas na comissura
dos meus olhos.
Quis convencer a tardia
saudade
a ser vento reverso
e sugar a fugidia nuvem
para perto de mim,
mas ela,
emprestou-se ao cansaço,
nem mesmo
o arrependimento
pôs-se a me auxiliar,
resignados estavam
em suas exaustões.
Talvez um dia
um laivo de ilusão
venha ter comigo,
isso, se ela
guardar disposição.
(...)
O tempo passou,
o regresso ficou
nos sinônimos
dos dicionários.
Restou a percepção
imperfeita
das horas gastas
numa inércia cruel,
enquanto ela
passava,
parava,
esperava,
cansava
e partia.
O que eu fiz?
Olhei para trás de mim,
os ponteiros, todos eles,
embebiam-se de um sono feroz.
Não havia mais nada o que fazer.
Já era tarde!
Tão tarde ...