À MEIA LUZ
A noite,
carcereira da luz,
trazia em seus cadeados
o segredo revelado
na face da penumbra.
Na clausura
dos olhos,
sua presença veio
devolver-me algum lume
de encantamento.
Negras eram suas pupilas
de uma beleza
densa,
imiscuída na tez do breu.
Os cabelos, a moldura
macia,
tapete suave
sobre o qual
meus dedos
invisíveis desfilavam
carícias.
Negrores exalavam
nas pétalas escuras
o perfume do teu rosto,
descortinavam
sensações,
desejos
nas formas
entreabertas
do véu embuçado
pela contraluz.
E na escuridão
silenciosa,
ofereceu-se
aos meus
olhos,
com o alcochoado
dos lábios,
na côncava boca,
embocadura
a guardar
uma réstia
de luz
a alumiar,
um coração
ávido
para se perder
nos labirintos
do teu corpo,
à meia luz.