INCONCLUSOS
Calmamente
a manhã avança
sobre as profundezas
oníricas.
Recolhe sonos inacabados,
os conserva em alguma gaveta do amanhã.
Emerge o dia
em meio à ansiedade da noite,
azáfama dos sonhadores.
Eles revelam seus desejos para Morfeu,
e suas angústias
para as vigílias
e os vigias
das madrugadas.
Sol e lua,
trocando segredos,
testemunhas
de um confessionário
maior,
nas margens dos leitos,
dos desvarios,
do leito dos rios,
onde homens mergulham
à procura das esperanças
encharcadas de medo.
E assim o mundo
vai se reconstruindo
com os sonhos
dos seus viventes,
teatro onde a vida encena
uma peça invisível.
Protagonistas ou não,
pouco importa,
todos são personagens,
náufragos de seus enredos
no oceano que repousa
com seus travesseiros,
e com as travessias, também.