SILENCIOSA
No início
era toda a palavra,
ruidosa garganta,
sôfrega,
lancinando a
tímida mudez.
Habitavam-me
os verbos.
Eram tantos,
e se conjugavam
num bulício
desordenado
de coisas vãs
e desejos amorfos.
Iam preenchendo-me
de vazios,
migalhas
que caiam
no turbilhão
de vozes,
às vezes
roucas,
desnudas
e loucas,
sem roupas
com a nudez
do nada,
despida,
despedida ...
despedaçada.
Aí você veio,
trouxe consigo
o silêncio
da alma,
algemou-me
na paz,
alegrou-me
demais.
E ao oferecer
teu beijo,
febril
percebi
que
o tempo
se abriu
para emudecer
e umedecer
teus lábios
com toda
sabedoria
do silente
modo de te querer.
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