PÉS NO CHÃO

PÉS NO CHÃO

 

A casa da favela que caiu,

Foi depois de um pé de vento,

Mas quando ela se descobriu,

Logo ressurgiu em monumento.

 

Deixou de ser casa de taipa,

Pra ser o ocaso da servidão,

Mas lá perdurou como a taifa,

Que ainda serviu capitão.

 

Desde logo fugiu o escravo,

Subindo o morro em procissão,

Mas viu surgir o povo eslavo,

E foi sofrer sem casa e pão.

 

Deixou de ser berço de trecho,

No coito nefasto da tortura,

E buscou fé na pedra de seixo,

Com seu otá sob a mesa escura.

 

Sobre cada mesa tinha o santo,

Em conjunto com a vela e oração,

Mas lá no resguardo de um manto,

Teve o Axé, com os pés no chão.

 

Mas os peixes do lago salgado,

Ainda lembram o povo de Angola,

Como o óleo escolhido no mato,

Dá textura à nação quilombola.

 

São as folhas e rezas no Axé,

Que religam o Aiyê ao Orun,

Como a disputa da caça só é,

A labuta de Oxóssi e Ogum.