PERFEIÇÃO
No dia, eu esfrego a pedra
e arranco a letal sujeira,
Lavo pratos pra comida limpa,
Esfrego em ânsia a roupa costumeira,
Em busca do asseio, falseio, devaneio.
Se vim da terra,
por que a terra suja?
Se me sinto inteira,
Por que resisto em pó,
Aqui tão só, sem querer o dó?
Na noite, sonho os fantasmas,
Moldo abrigos com comida e água,
Mato a vida que me fez outrora,
Apago a cor de profunda mágoa.
Renasço inteira, sozinha, verdadeira,
Acreditando que o dia passará
E me restituirá a luz,
Que engana, esconde, falsei
A realidade que me traga,
Deforma e estraga,
E que, perfeita, me conduz.