A CEGUEIRA E O BEÓCIO
A CEGUEIRA E O BEÓCIO
Pensei na maior biblioteca,
Como se fosse em Alexandria,
Mas cá nem sobrou povo Asteca,
Muito menos a minha alforria.
Ler pra que? Me diria um beato,
Pois só a bíblia lhe importava,
Com seu guia, só feito de tato,
Que a leitura não comportava.
Mas quem já viveu numa roça,
Sem escola e longe dos burgos,
E nem teve o direito à carroça,
Padeceu de viver como o burro.
Já quem deu ouvido aos mestres,
Mesmo em lugar humilde ou rico,
Sabe mais do mistério celeste,
E talvez saiba o que lhes digo.
Nós não somos reis do mundo,
A não ser pela nossa versão,
Mesmo havendo um solo fecundo,
Ou engodo do "dono" do chão.
Só o conhecimento enobrece,
Desde quando ele nos liberta,
Pois escravo é quem desconhece,
O valor de uma porta aberta.
Quem vive a cegueira das noites,
Não consegue ver além do luar,
E nem sabe que mesmo os coiotes,
Uivam à noite, mas vão a caçar.
Cada bicho procura a comida,
Sem esperar que caia do céu,
Mas o homem que sabe da vida,
Planta até sobre o arranha-céu.
Não faz certo quem for beócio,
Mas agora eles são a maioria,
Pois fazem da vida um negócio,
Com a riqueza de almas vazias.
De que adianta ter outra casa,
Se não for para nela morar?
De que vale a jarra e a brasa,
Se castanha e caju já não há?
Viver é saber que vai morrer,
E por isso eu também reclamo:
De que vale ter ouro e poder,
Se eu não servir pra quem amo?