TALVEZ SEJA UM TEMPO ESTRANHO

TALVEZ SEJA UM TEMPO ESTRANHO

 

Somente me basta ser livre,

Pois sei o quão caro é viver,

Como a planta não quer salitre,

Se junto, ela não vai crescer.

 

Nos só teremos vida majestosa,

Quando o solo for cheio de cor,

Ou misturando pergunta e resposta,

Com o mistério e o cheiro da flor.

 

A natureza é casa e oratório,

Desde quando saibamos morar,

Como um monge no promontório,

Louva a Deus vivendo a orar.

 

Talvez seja um tempo estranho,

Pois tem gente com mesquinhez,

Quando não se divide os sonhos,

E nem o fruto maduro e de vez.

 

Nesse mundo que tudo produz,

Eu não aceito o povo com fome,

Se comem lesma e até avestruz,

Mas o abastado é quem consome.

 

Aos miseráveis restam só ossos,

Que nem mais serve pra refeição,

Mas quem é rico sonega impostos,

Enquanto se farta sem compaixão.

 

Hoje é algoritmo ditando o preço,

Mas só estudei demanda e oferta,

E meu vizinho eu já não conheço,

Pois o que tenho é a morte certa.

 

O tempo, objeto de um minerador,

É diferente de quem planta tomate,

Quando só sabem gerar valor,

Que não se vê no céu escarlate.

 

Na minha maneira de valorizar,

Vejo os dias ao longo da vida,

E se o que quero permite sonhar,

Ou o que me resta for despedida.

 

O meu coração só pensa em amar,

Pois já não vivo de ter ambição,

Mas só Jesus andou sobre o mar,

Então, me prostro em oração.

 

Gasto meu tempo a conversar,

Mesmo que seja quando escrevo,

Sempre devoto e ao suportar,

Cada martírio em meu degredo.

 

Dizem que dor é de quem aguenta,

Falam assim de quem vai sofrer,

Mas quem viver até os noventa,

Sabe o difícil de se conviver.