Ébrio
Ao olhar para o céu
Vi um fio de lua
Nem sei porquê
Alma nua
Enquanto sinto-me tua
Esse fio de lua
Me fez lembrar de você
Sem que tua face possa ver
Talvez porque estava eu a voltar
E já sabia o que ia encontrar
Feito um ébrio
Que no caminho encontra o bar
Sabe bem o que esperar
E mesmo consciente
Da calçada em que irá repousar
Deixa o corpo
Entrar naquele lugar
Pra com tuas palavras
Ouvir a própria voz
Solicitar:
"Traga o que irá me matar"
Não pedirá uma
Mas repeditas vezes pronunciará
A mesma frase que o derrubará
E não pelo sabor
Que lhe desce a rasgar
Mas pelo que sente
Quando mente
E tudo sente
Fogo que o queima
Garganta
Veia
Alma
E planteia
Pela face tudo desmente
E outra vez mente
Diz que nada sente
Enquanto a alma se derrama
Molhando a face e reclama
A felicidade que não chama
Teu nome nessa trama
E fica nesse lugar
Até que a rua o põe a dobrar
E na calçada tem o corpo a delirar
Ao dispor do que o possa alcançar
A alegria se faz fria
Não encontra ali o seu morar
E abandona o corpo largado sob o luar
Que tudo assiste
Sem nada afagar
Por isso os olhos meus
Acham na lua
Em fio ou cheia
Os motivos pra que a alma agora nua
Também se faça a derramar
Sou eu e ela
Eu e eu
Isso é mais nada
Sem contos de fada
Só a lua
Só eu
Só o ébrio
Só
Apenas Só
Pele nua
Alma sua
Na calçada da rua
Enquanto a lua
Muda a fase
E tudo permanece na rua
Eu
O ébrio
A lua