Ébrio

Ao olhar para o céu

Vi um fio de lua

Nem sei porquê

Alma nua

Enquanto sinto-me tua

Esse fio de lua

Me fez lembrar de você

Sem que tua face possa ver

Talvez porque estava eu a voltar

E já sabia o que ia encontrar

Feito um ébrio

Que no caminho encontra o bar

Sabe bem o que esperar

E mesmo consciente

Da calçada em que irá repousar

Deixa o corpo

Entrar naquele lugar

Pra com tuas palavras

Ouvir a própria voz

Solicitar:

"Traga o que irá me matar"

Não pedirá uma

Mas repeditas vezes pronunciará

A mesma frase que o derrubará

E não pelo sabor

Que lhe desce a rasgar

Mas pelo que sente

Quando mente

E tudo sente

Fogo que o queima

Garganta

Veia

Alma

E planteia

Pela face tudo desmente

E outra vez mente

Diz que nada sente

Enquanto a alma se derrama

Molhando a face e reclama

A felicidade que não chama

Teu nome nessa trama

E fica nesse lugar

Até que a rua o põe a dobrar

E na calçada tem o corpo a delirar

Ao dispor do que o possa alcançar

A alegria se faz fria

Não encontra ali o seu morar

E abandona o corpo largado sob o luar

Que tudo assiste

Sem nada afagar

Por isso os olhos meus

Acham na lua

Em fio ou cheia

Os motivos pra que a alma agora nua

Também se faça a derramar

Sou eu e ela

Eu e eu

Isso é mais nada

Sem contos de fada

Só a lua

Só eu

Só o ébrio

Apenas Só

Pele nua

Alma sua

Na calçada da rua

Enquanto a lua

Muda a fase

E tudo permanece na rua

Eu

O ébrio

A lua

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 03/05/2022
Reeditado em 03/05/2022
Código do texto: T7508682
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