Do teu silêncio
 
Do teu silêncio jorram tantas palavras...
Mas quem sabe um dia não seja possível ouvi-las,
e saciar esta fome que me consome,
e esquecer o frio que me congela a alma,
me aquecer e com toda a calma,
lentamente me perder,
e nesta perdição, mais me perder,
sem medo de não mais me encontrar,
pois não encontro solução
para resolver de outra maneira
esta desencontrada existência,
tão confusa, tão sem essência, tão desconexa,
tão sem rumo e direção,
tão carente de você e
das coisas que não são ouvidas,
por não serem ditas,
por serem somente desejadas.

Do teu silêncio quantas coisas posso extrair,
para tentar me distrair desse momento tão crucial,
tão sem igual da minha vida...
Talvez fosse melhor partir, já, logo
talvez quem sabe,
quem sabe um dia eu não vá de fato,
irremediavelmente,
mas isto é certo, tanto quanto eu existo,
e resisto, e insisto e não partir
em ser nem sei mais o que,
pois que de tudo já me esqueço,
pois tão cansado estou de perseguir os sonhos
que um dia porventura ousei sonhar,
como alguém que olha para o além mar,
tentando adivinhar o que lá existe,
tentando alcançar o que não existe,
somente em sonhos,
pois que nos sonhos tudo cabe, até o impossível.
Mas se um dia eu por fim me decidir
não terei tempo para avisar que vou partir,
pois partirei de vez, de uma só viagem,
levando tudo, não levando nada,
não há nesta viagem espaços para bagagens,
nem para sonhos,
e quando me procurarem já será tarde,
não mais estou ou estarei,
e tudo o que de mim aqui restar será tão pouco,
apenas o suficiente para assegurar
que um dia de fato estive aqui.

Mas esta com certeza não será ainda
a minha última viagem,
pois tenho outras planejadas,
sem sequer saber se terei tempo
para realiza-las todas,
ah! é tão vasto o mundo e o meu coração.