O CUPIM E O VAZIO

O CUPIM E O VAZIO

 

Havia uma casa na escarpa,

De onde os cabritos olhavam,

Sob o açoite das invernadas,

E sorriam enquanto oravam.

 

Eram preces frente ao nada,

Ou apenas estada e cochilos,

Pois o frio só gera escaras,

Que nem cobra emite sibilos.

 

No frio tudo logo hiberna,

Que até mesmo o sono congela,

E o monstro é hidra de lerna,

Ou os sete pecados em tela.

 

Mas a casa é também do cupim,

Que a tudo tornava um vazio,

Por conta da fome sem fim,

Ou vida que está por um fio.

 

Não se pode viver tão sozinho,

Ou sobreviver sem o calor,

Só por isso é vão o caminho,

Que não leve no colo o amor.

 

E assim o cupim não é tudo,

Mas só age junto à família,

E o seu vazio não é absurdo,

Se o fastio é numa mobília.

 

Só no vácuo não age o cupim,

Nem o fogo acende a lareira,

E os dias terão sempre fim,

Como ovos sem a chocadeira.