O TEMPO E A TRAÇA
O TEMPO E A TRAÇA
Questionar os dias é direito,
Quando agimos em sintonia,
Mas nem tudo será perfeito,
Se a compostura é de agonia.
Nesses dias de velocidade,
Querem o raio e desde ontem,
Que nem dá pra ser verdade,
Se o oráculo não responde.
As estórias narradas ontem,
Hoje não acham quem ouça,
E os fantasmas se escondem,
Só que agora vão na bolsa.
E estão dentro e reprimidos,
Por colírios que nos cegam,
Como o ouro dos bandidos,
Que não sei como carregam.
Mas são preços disso tudo,
Em cada dia que vivemos,
Os quais vestem-se de luto,
Por saber o que não temos.
Todos querem a eternidade,
Mas com ela não se entendem,
Pois quem quer só mocidade,
Sabe o preço ao qual se rende.
Ontem eu era só um menino,
E hoje vejo o que nem sou,
Se quem flerta com o destino,
Viu o relógio e não gostou.
E nesse fim virou fumaça,
Sendo aluno ou professor,
Sentado numa velha praça,
Ou nas ruínas do confessor.
Pois o templo é o comparsa,
Que viu o tempo ser doutor,
Porque seu livro viu a traça,
Antes de curar um leitor.