A RAZÃO NÃO VÊ POESIA

A RAZÃO NÃO VÊ POESIA

 

A missão de um cometa é vagar,

Mas o meio do nada é sem rota,

E somente quem conhece o lugar,

Poderá ser um gato de botas.

 

Onde ando só piso no firme,

Porque a terra é o meu lar,

Mas se eu fosse boto ou cisne,

Eu haveria de saber nadar.

 

Então se deixe levar pela arca,

Pois a ressaca quer passear,

E se a pomba lá desembarca,

É porque temos Noé a orar.

 

Se estais no mundo há razão,

Enquanto a viagem permite,

E hoje, há suor pelo chão,

Mesmo quando tu és dinamite.

 

Até hoje me assustam as armas,

E desde sempre não vivo da caça,

Porque elas me expõem as almas,

Que sucumbem no meio da praça.

 

Bem ali deveria haver um coreto,

E não apenas choro e lágrimas,

Mas tudo agora é só de concreto,

Como as flores sobre mortalhas.

 

E assim só suspiro em ocasos,

Se por hora o que sobra é agonia,

E as ninfas não narram os casos,

Como a ode já não vê poesia.

 

Somente há soluços do gago,

Nos gritos de loucos bandidos,

Com fadas que mudam de lado,

Ou o afago do mago perdido.