O ÚLTIMO RESPEITO E O PRECIPÍCIO

O ÚLTIMO RESPEITO E O PRECIPÍCIO

 

Após a morte do último respeito,

Sobraram os homens "de" bem,

Mas nem esfriou o corpo no leito,

E o suspeito matou-se também.

 

Cada presunção já perpetrada,

Vindo de baixo será formigueiro,

Pois verá chuva como granada,

A explodir seu fugaz picadeiro.

 

Tanta firula ou as palhaçadas,

Sempre serão aprovadas ou não,

Porque piadas serão festejadas,

Quando se crê pela emoção.

 

Nunca serviu a ofensa da honra,

Pois o orgulho é uma presunção,

De que sejamos o cão de ronda,

Que dilacera e não dá perdão.

 

Quando o vaqueiro matou o índio,

Foi por ganância e crueldade,

Por não saber do próprio suicídio,

Pois numa cova tudo é verdade.

 

De que adianta garimpar o ouro,

Se na berlinda a fome retumba,

Pois sem oásis, deserto é fogo,

E a cacimba seca será a tumba.

 

Desde todo avanço da técnica,

Que ser humano é pra descarte,

Ao cantar louros sem métrica,

Do que será seu fim ou infarte.

 

Tudo caminha para o precipício,

Pois só queremos a facilidade,

Sem importar o custo do vício,

Que surrupia saúde e saudade.

 

Então, chega a morte do justo,

Pois foi traído por prosperidade,

Sem enxergar o seu ato injusto,

Quando infernou toda sociedade.

 

Elegemos, quem sabe, ladrões,

Pois eles são bons de enganar,

Pela doença de tantos bordões,

Ou com abraços de tamanduá.