Entre o início e o fim
Quantos passos não dei
nas viagens que eu nem fiz
e quantas poesias nem criei
dos amores que não amei.
Quanto tempo nem gastei
naquilo que não sonhei
e excessivamente não sofri
as dores que não senti.
Terá sido este o lado positivo de tudo?
Pois que o outro tanto me desgastou,
me fez tantas vezes desgostar
daquilo que decerto eu amei,
ou que ao menos eu amaria se pudesse.
O certo e o errado me confundem,
me consomem
afugentam o precário equilíbrio
entre o que sinto e o que penso,
entre o que penso sentir
e o que poderia sentir de fato.
Entre o início e o fim há uma história
que me ofusca a lucidez
que me deixa como embriagado,
ou desolado, ou me tira o rumo,
o débil prumo que me sustenta
o pouco que me orienta
e que nem mais sentido faz
(mais ainda assim sou capaz,
mesmo que não te importe,
de permanecer ainda te amando).
Quem sabe um dia eu volte a ser o teu poeta?