Em Frente a Lareira 

 

O lenço branco agitou-se no ar parado,

A boca seca gesticulou palavras do dito,

O instante correu largo e sem sintonia.

Não despertou para o fragmento exposto.

 

Quando dei por mim a porta fechou.

Freei os pensamentos, o recalque apagou.

Atropelei emoções, sustei todas as ações.

A tarde caiu cinza, gelada foram as tensões. 

O frio queimou os ossos e a noite veio.

 

O quarto desarrumado cheira a guardados.

Um perfume forte tomou conta do espaço.

Um carro passou veloz a buzinar lá fora,

Fechei as janelas, as cortinas e me fechei.

Em frente a lareira li a Divina Comédia.