PAU DE UMA BORDUNA

PAU DE UMA BORDUNA

 

Foi só naquela tribuna

Que o anjo disse pra mim

Seja o pau de uma borduna

Seja um homem apenas

Que não se afortuna de mim.

 

Levei só o meu pelo

Pois o meu cabelo é ruim

Mas disseram pra que barba

Pega o trouxa que foi guarda

E mistura no verbo assim.

 

Desde então sofro doente

Pois o penitente anda 'sozin'

E os remédios cobram a conta

Que não tem mais a monta

Dos que me desejam o fim.

 

Se o segredo ninguém conta

Pois o bem é tão ingênuo

E se serve de afoito veneno

Que mata a homem e anta

E sujeita a fechar nosso rim.

 

Cinco anos pelo além passaram

Desde o cerco fosco e espinhento

E os pecados não encontraram

Mesmo assim eles julgaram

Mas o bolo é sem fermento.

 

E o duro é o resultado

Que só agrada à caterva

Pois salmoura é o pisado

Da azeitona ou preto julgado

Que nunca se enterra.

 

A minha sina é nau catingueira

Sem ter água ou céu de feira

Por estar na corda do enforcado,

Sem meu amor ao lado

Posto a prêmio na hora primeira.