A MENINA QUE ACUMULAVA SILÊNCIOS
Naquele ambiente ruidoso,
em que nem as palavras
mais resistentes,
conseguiam suportar suas vozes,
percebi a ausência
daquela menininha
com a sua boneca,
que antes observava tudo,
mas não dizia nada.
Pus-me a procurá-la,
nas lonjuras
das minhas tentativas diárias.
Numa manhã clara,
de sol ausente,
encontrei-a ao longe,
depois da curva dos olhos,
quase ao lado do esquecimento.
Estava imóvel,
parecia comunicar-se
com a boneca.
Quando me aproximei,
fui tomado por uma quietude
constrangedora,
pela primeira vez
ouvia a voz do vento,
o canto mudo das folhas,
o som contagiante do vazio.
Neste momento,
percebi que ela estava
rodeada de silêncios.
Era o que mais precisava,
por isso,
secretamente,
os retirou um por um
daquele ambiente hostil,
estavam tristes,
desprezados ...
abandonados.
Hoje todos eles
brincam com ela,
numa alegria
silenciosamente ensurdecedora.
Procurei falar com ela,
entender suas razões.
Ela me fitou com graça,
pegou delicadamente,
em minhas mãos
e me beijou no rosto
com a leveza da sua paz.
Tão pequena,
tão grande em seus propósitos!
Foi aí,
que percebi
que ela não falava;
nem necessitava.
Ela sabia dizer tudo
o que queria
com os olhos:
da face e do coração ...
e com os seus silêncios também.
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