CHOVE, CHUVA!
Ainda tenho
na fresca tinta da memória
o colorido dos tempos
em que me debruçava a brincar sob a chuva.
As águas todas, miscíveis,
compunham 1 só alegria:
as gotas que as nuvens derramavam,
se misturavam com as lágrimas de emoção,
suores de excitação.
O mundo parava nas tempestades,
têmperas tardes,
com os temperos
e destemperos
da felicidade.
A grama banhava-se
de frescor,
a lama banhava-me
a tez da cor
da liberdade.
A chuva
era a ducha
de água fria
na monotonia
do dia seco,
árido,
ávido,
das enchentes
das gentes
enchendo
seus genes
de líquida fantasia.
Meu sonho de menimo
era aprisionar as nuvens
e abrir suas torneiras
toda vez que quisesse sorrir.
Mas o tempo
passou
apertou
as válvulas,
e enxugou
aquelas chuvas
da infância infinita.
Porém, desconfio
que certas nuvens
fugitivas,
vêm me cercando,
me inundando
dia-a-dia,
como numa súplica,
só para verem transbordar
o menino que um dia
choveu dentro de mim.