CHOVE, CHUVA!

Ainda tenho

na fresca tinta da memória

o colorido dos tempos

em que me debruçava a brincar sob a chuva.

As águas todas, miscíveis,

compunham 1 só alegria:

as gotas que as nuvens derramavam,

se misturavam com as lágrimas de emoção,

suores de excitação.

O mundo parava nas tempestades,

têmperas tardes,

com os temperos

e destemperos

da felicidade.

A grama banhava-se

de frescor,

a lama banhava-me

a tez da cor

da liberdade.

A chuva

era a ducha

de água fria

na monotonia

do dia seco,

árido,

ávido,

das enchentes

das gentes

enchendo

seus genes

de líquida fantasia.

Meu sonho de menimo

era aprisionar as nuvens

e abrir suas torneiras

toda vez que quisesse sorrir.

Mas o tempo

passou

apertou

as válvulas,

e enxugou

aquelas chuvas

da infância infinita.

Porém, desconfio

que certas nuvens

fugitivas,

vêm me cercando,

me inundando

dia-a-dia,

como numa súplica,

só para verem transbordar

o menino que um dia

choveu dentro de mim.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 21/02/2022
Código do texto: T7457637
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