INSTILAÇÕES E MUTILAÇÕES DE UM AÇOUGUEIRO
Salgueiro,
o açougueiro.
Vivia triste,
o magarefe,
com a partida
da Margarete.
Ela se foi,
e deixou
o sal da saudade
no Salgueiro:
no quarto,
na sala,
... no saleiro.
O sal da
lágrima,
da saída,
lhe lancinava a alma,
lacerava–lhe o espírito,
cortava sua pele
nua,
crua,
sem o tempero do amor,
apenas com o sal do abandono.
Tempero ou temperança?
Espera ou esperança?
O sangue do ofício,
se imiscuia com o da sua dor,
instilava-se no juízo,
o seu juízo final.
E como fuga,
ou abreviação
do seu tormento,
Salgueiro,
o açougueiro,
viveu seus
últimos dias
a se torturar,
como um animal,
... terminal,
mutilando suas carnes,
e os seus cornos, também.