Pai
Pai, por que soltou minha mão?
Por que saiu do meu alcance?
Passamos pela vida pai.
Você meu pai, e eu, sua filha ,
Pai, em linhas cruzadas e torcidas.
Fomos como óleo e água,
Estavamos no mesmo copo.
Paaaaaai a tua voz estava inteira,
No telefone dia dois, manhã comum,
Clara, clara como tua voz.
Como pai de noite não existia
A tua voz na minha linha?
Eu queria voltar no tempo pai,
Para te dar boa noite,
Dizer te amo, dizer bom dia.
Dizer que tudo foi um engano,
Que não passou de teimosia.
Queria segurar forte a tua mão
No teu derradeiro dia.
Dar-te um abraço e um beijo
Como nunca em nossos dias.
Dizer que não me perdi,
Que sou um mulher comum.
Pai, não fomos o mundo,
Estavamos sozinhos, deserto profundo,
Faltou dentes nos trilhos,
Faltou canto e encantos.
Parede de fundo.
Pai sabe mais de uma coisa?
Na geometria não-euclidiana duas retas
Paralelas se cruzam no infinito.
Nos encontraremos pai,
Na tua canção, o meu lamento.