DEPOIS QUE VOCÊ SE FOI
Engravidei-me
de saudades,
anoiteci em definitivas ausências.
E foram tantas,
que meus outros vazios
pareciam apenas caprichos infantis.
Até o inconformismo
me foi efêmero,
não coube mais
numa partida cruel
Na escultura da despedida,
o sofrimento
ficou com o cinzel.
De que se alimentaria agora minha solidão ?
Livros, cartas,
lágrimas, lástimas ?
Suas roupas tão negras
me olham
no fundo do armário,
procuram seu corpo,
seu cheiro não mais as colore.
Havia uma imagem sua alí,
atrás da porta da frente,
à frente do porta-retrato
atrasado,
na moldura do quadro,
um filme não revelado,
a página arrancada,
pátina oxidada
que tempo me tirou
quando lhe levou.
O terço
em cima da
cômoda,
incômoda,
do quarto
virou um rosário,
um calvário
de contas sem fim,
depois do seu fim,
não há mais nada
para contar.
A mesa continua posta,
mas a fome é póstuma.
O relógio na parede
já não faz
mais sentido,
não há porque
acompanhar
o giro dos ponteiros.
Não há mais voltas ...
não há mais volta.
Volta!
Ou me leva contigo.
A morte da vida,
a vida após a morte,
ocupam o mesmo lugar
nessa sepultura
que a minha dor
não consegue fechar.