SAVANA
A noite transpirava estrelas,
rasgando o véu da escuridão.
A lua
empalidecia em espera.
Já não era tão cheia,
apenas nova,
nova esperança
de outro luar,
em algum lugar da esfera.
Feras regurgitavam gritos,
a floresta guardava os silêncios
amordaçados pelo medo.
Os tambores,
ao longe,
soavam suas peles,
outras peles suavam
seus tremores.
O vento compunha
uma sinfonia
de angústia,
trazia em seu hálito
saliva da fome voraz
dos predadores.
A aldeia assistia, perplexa,
o avizinhamento de olhos famintos.
Árvores quedavam
em noturnas cumplicidades.
Guerreiros alternavam
suas vigias,
vigilantes
das sombras esguias
da morte.
E nesse tormento,
holocausto das horas,
as orações se multiplicavam:
feiticeiros, pajés
curandeiros,
olheiros, aflitos,
ansiosos pelo sol
do amanhã ...
que parecia nunca chegar.
Apenas os urros
cada vez mais próximos,
de mais uma noite de agonia.