SAVANA

A noite transpirava estrelas,

rasgando o véu da escuridão.

A lua

empalidecia em espera.

Já não era tão cheia,

apenas nova,

nova esperança

de outro luar,

em algum lugar da esfera.

Feras regurgitavam gritos,

a floresta guardava os silêncios

amordaçados pelo medo.

Os tambores,

ao longe,

soavam suas peles,

outras peles suavam

seus tremores.

O vento compunha

uma sinfonia

de angústia,

trazia em seu hálito

saliva da fome voraz

dos predadores.

A aldeia assistia, perplexa,

o avizinhamento de olhos famintos.

Árvores quedavam

em noturnas cumplicidades.

Guerreiros alternavam

suas vigias,

vigilantes

das sombras esguias

da morte.

E nesse tormento,

holocausto das horas,

as orações se multiplicavam:

feiticeiros, pajés

curandeiros,

olheiros, aflitos,

ansiosos pelo sol

do amanhã ...

que parecia nunca chegar.

Apenas os urros

cada vez mais próximos,

de mais uma noite de agonia.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 13/02/2022
Código do texto: T7451636
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