O QUARTO AO TEMPO

O QUARTO AO TEMPO

 

O quarto surgia pequeno,

Como poço de desespero,

Igual a um cocho sem feno,

Ou o cacho de um vespeiro.

 

Não tinha janela nem teto,

Somente um vaso sem água,

Mas vinha apenas da fama,

De ser a gaiola da mágoa.

 

Nele não se tem uma cama,

Nem mesmo esteira no chão,

Que seja o lodo de escamas,

Dos peixes mortos no sertão.

 

Se o quarto era ao tempo,

Porque ainda tinha as redes?

E a clausura sentia o vento,

Mesmo que não visse paredes.

 

Então, tudo era o imaginário,

Ou tortura de alguns ideais,

Desde quando não há diário,

Que tenha registros normais.

 

Tudo pode ser só insanidade,

Da loucura de ler os jornais,

Pois as cobras estão na cidade,

Desde cedo ou tarde demais.