Nuvens carregadas
Certo dia descendo a avenida
assim meio sem vontade
com os passos cansados
os olhos assim sem vida
sob as nuvens carregadas
da minha noite estendida
eu caminhava passo lento
alheio a todo som, alheio
aos dos pegadas as batidas
Vi-me a meio caminho
a analisar a própria micro história
dessa minha insignificativa vida
eis que as laterais da larga estrada
onde estavam casas e comércios
num pestanejar todas se emparelharam
todas com a mesma forma
todas com a mesmo tamanho
todas ficaram escuras
como imensas colunas
que se alçavam ao céu
mas, no meu momento denso,
nada daquilo me pareceu estranho...
Continuei ao som do silêncio,
a casa ficava ainda distante
mas o tempo passava lento
como sempre tem sido em mim
como sempre tem sido
visto demasiado nos detalhes
como se se aprazessem
escavar os detalhes do mundo
a procura de se entreterem
esses já desgastados
acinzentados e mornos
olhos suprahumanos
Nada me admira,
nenhum susto em minha alma
que aprendeu sorvendo
todos os medos
a difícil sapiência da eterna calma
continuei andando
como sempre
como se tivesse esperando
que algo acontecesse
como aquilo
os longos muros negros
com as densa nuvens tenebrosas
se encontrando...
Aqui e acolá
as luzes dos postes
piscavam
como se um ser de natureza não humana
quisesse apagá-las
mas a rua continuava extensa
mas larga que no horário da madrugada
em que meu ser gosta de andar
e de se deitar em noites mais amenas
no meio da estrada,
para dirigir o olhar ao céu
além das estrelas
se aprofundando nos interstícios escuros
onde a imaginação pode flutuar
nadar sem a interferência de nada...
Estava eu assim a caminhar
quando tudo isso mostrou-se mim
escondendo o mundo que eu via
com os olhos carne
e revelando aquele com o qual convivia
dia e noite noite e dia...
17/06/2008