LAMENTO
Quando eu me for
será tarde demais.
Restará um arrependimento latente
camuflado pelo adeus.
Um beijo engavetado,
abraço enclausurado,
elogio represado,
um perdão postergado.
No futuro invisível,
indivisível,
o amor agoniza
agora
e se conserva
no formol
da sua tardança.
no bemol
mudo,
desnudo
da inexistente dança.
E você nem sequer leu o poema que lhe fiz.
Amarelou-se com a pátina
do esquecimento
na face desdenhosa
que sua ausência-presença
me causou.
E nem sequer ouviu a música que lhe fiz,
tampouco cheirou as rosas que colhi só pra ti.
O tempo se foi
e com ele as reconciliações
e tudo mais
que um dia meu verso
poderia lhe dar.