UMA VISÃO DE BRASIL
UMA VISÃO DE BRASIL
Às vezes sou tempo e vento,
Nos sonhos em uma campanha,
Juntando farrapos em Bento,
Enquanto o tacho tem banha.
Os tempos de outrora se foram,
Mas foi lá que vivi o sacramento,
No batismo nas águas que jorram,
Sob o frio em longínquo convento.
Foi nos pampas que vi charqueada,
Depois de um costelão cozinhar,
Pois a brasa foi logo apagada,
E na chuva eu não fui defumar.
Eu lembro da graspa e do vinho,
Aquecendo o meu peito a chiar,
Pois de dia o café é quentinho,
Mas à noite a cachaça é jantar.
Noutros pastos a lã tosquiada,
Lembrava os carneiros de lá,
Enfrentando o frio e a geada,
Que atormenta a guria e o piá.
Sou nordeste, mas isso é Brasil,
Junto ao Sul e seu frio ardente,
Que me faz ver o norte e um trio,
Ou Serrado dos rios correntes.
Como o bode, cuscuz e beiju,
E também a polenta e o tropeiro,
Mas tem pato, aipim ou zebu,
Se a cozinha é dom brasileiro.
Por aqui tudo é fruto e sabor,
Mesmo até se a fome atenta,
Pois o povo tem vício na dor,
E tolera um ladrão na fazenda.
Não bastasse viver de clamor,
Hoje temos um louco na casa,
E o Brasil é servil de um "doutor",
Que envenena o doente e mata.