CHOVE LÁ FORA
Lentamente
a vida se desfaz dos açodamentos
e nos aprisiona
para contemplarmos
as lágrimas do tempo
nas muralhas envidraçadas
das casas encasteladas.
Alguns dirão
apenas que são chuvas,
outros farão tempestades
em seus corpos d'agua.
Incautos
que são,
desconhecem
os propósitos
das nuvens
que desaguam,
lavam asfaltos,
levam infaustos
impregnados
de uma pressa vazia
no túmulo, limbo do agora,
no cumulo-nimbus da hora.
Deixemo-as
no seu ritual de purificação,
No teto, o céu gris
convida cada alma
uma janela vis a vis
aos olhos molhados
enfadonhos,
de tanto perder a calma
e todo o tempo
na atmosfera cinzenta
de suas incessantes
tormentas,
a espera de uma bonança
que o tempo lá fora
um dia há de lhes dar.