MORTE VIVIDA
"Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer"
Fragmento de
"Poema da Despedida"
Mia Couto (1955 - )
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MORTE VIVIDA
Hei de morrer um pouquinho
a cada dia
na homeopatia de refratárias saudades.
Lentamente,
como quem apulhala o tempo
com agulhas da insofrível espera.
O vazio reserva a sepultura,
mas eu insisto em adiar o óbito.
Falsifico certidões de ilusão,
no estelionato de alguma esperança,
que guardo na gaveta do teu improvável regresso.
Não saberia morrer
de morte morrida,
apenas daquela desatinada,
indefinidamente
procrastinada
pela ausência da vida
que a sua partida levou.