MORTE VIVIDA

"Não saberei nunca

dizer adeus

Afinal,

só os mortos sabem morrer"

Fragmento de

"Poema da Despedida"

Mia Couto (1955 - )

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MORTE VIVIDA

Hei de morrer um pouquinho

a cada dia

na homeopatia de refratárias saudades.

Lentamente,

como quem apulhala o tempo

com agulhas da insofrível espera.

O vazio reserva a sepultura,

mas eu insisto em adiar o óbito.

Falsifico certidões de ilusão,

no estelionato de alguma esperança,

que guardo na gaveta do teu improvável regresso.

Não saberia morrer

de morte morrida,

apenas daquela desatinada,

indefinidamente

procrastinada

pela ausência da vida

que a sua partida levou.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 05/12/2021
Código do texto: T7400745
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