TEMPOS DE CIGARRA

TEMPOS DE CIGARRA

 

Tudo na vida tem seu tempo,

E na primavera também é assim,

Pois cada flor se expõe ao vento,

Para seu pólen buscar o jardim.

 

Mas tudo aqui é tão rápido,

Mesmo em um quarto de ano,

Se o vento sempre é válido,

Ou se apenas é meu engano.

 

Pois viver nesse hemisfério,

Na crueldade da sede e calor,

Não permite neve no império,

A não ser se o rei é o condor.

 

Pois aqui tudo é mais embaixo,

Beira-mar de um arpoador,

Porque nem as baleias eu acho,

E isto sim, é meu grande temor.

 

São os tempos de cigarra,

Que só cantam cheias de dor,

Pois logo deixam a farra,

Porque já lhes bate o motor.

 

Seu canto é de anúncio,

Mas também não tem cor,

E é assim que faz a denúncia,

Em só um insensato clamor.

 

Hoje em dia eu nem lembro,

Se era boa a nossa juventude,

Pois eu queria o mês de dezembro,

Para que Deus bem ali nos ajude.

 

Pois nas datas dos homens,

Só temos a glória com a dor,

Mas se eu não sou lobisomem,

Irei rezar pra Nosso Senhor.

 

Não espero que os dias,

Sejam algo tão prático,

Na surpresa de uma agonia,

Se o taurino é um pragmático.

 

Só que Deus nos deu alforria,

Mas o homem somente estraga,

E ainda diz que é um bom guia,

Mas, no fundo, é uma praga!