Eternas Lembranças Os guardados amarrotados estão na escrivaninha, Amarelados pelo tempo e de caducos rabiscos. Estão ali no velho armário de madeira pesada. Roídos pela saudade, engolidos pelo frio da sala. As silenciosas paredes sombream os traços, Vestem as lembranças e relembram o passado. Os livros na estante têm um cheiro marcante Misturado ao cheiro das traças, Que traçam as últimas lembranças. Chega a madrugada e recosto o corpo Revivo entrelinhas. Sinto o frescor dos anos, O calor dos beijos, o brilho da juventude. Na acolhedora sala, nos braços da solidão Fico esquecida, Mas nas letras desbotadas me agasalho. Espalho todos os achados e sofro, Um sofrer gostoso de amores ausentes, Que se faz presente nas páginas relidas E no quadro de Picasso esquecido na parede da esquina.