ANTÍTESE
Não sou poeta, jamais serei...
... Apenas trago no peito
a essência inebriante
das flores de Baudelaire,
a instigante obra da divina
comédia de Dante
e o romantismo de Heine!
Também se apossou de mim
as inquietações de Neruda,
a dor e a ternura de Florbela,
a autopsicografia de Pessoa,
as elegias de Rainer Rilke
e as iluminuras de Rimbaud.
O soneto XVIII de William Shakespeare
e o romance sonâmbulo de Lorca
fazem de mim, espectro!
Não sou poema, jamais serei...
Apenas carrego os versos:
o eu da melancolia “dos Anjos”,
as sete faces de Drummond,
a poética lírica de Bandeira
e o aprendiz de feiticeiro de Quintana
a cada página virada.
Con(verso) tecendo a manhã
com João Cabral de Melo Neto,
reflito sobre a rosa de Hiroshima de Vinícius,
o cogito de Torquato,
as galáxias de Haroldo,
no caminho, com Maiakovski, de Eduardo.
E mais o motivo de Cecília Meireles,
o traduzir-se de Gullar
são fonte de minha sede.
Não sou poesia, jamais serei...
Apenas em minh’alma se esparrama
a essência matizada de Almir Diniz,
os amarelos girassóis (di)versos
de Thiago, bardo florido do Andirá,
o som da “frauta” e os doces
rondeis de frutas de Bacellar!
Apenas carrego comigo
os versos azuis de Ernesto,
o barro verde dos primeiros
passos de Elson Farias,
a varanda apinhada de pássaros
na ótica de Jorge Tufic.
Flora igualmente em mim
a alegria de Violeta Branca
e o visgo da terra de Astrid.
Poeta, poema, poesia...
Sou apenas aquele que capta luz
di (versos) e sonhos...
do verbo que passa as dores,
dos sentimentos reprimidos,
de angústias e desejos de amores
em olhos e risos entristecidos!
Sou o que se nutre da palavra,
do sopro lírico dos versos livres,
dos ritmos cordiais,
dos tons e semitons,
dos acordes mais profundos
regidos por iluminados poetas.
No versejar da subjetividade,
sou apenas um caleidoscópio que revela
a luz incandescente d’alma!