AS BALAS PERDURAM

AS BALAS PERDURAM
 
Os tempos não estão fáceis,
Pra quem verte a melanina,
Enquanto a guerra de classes,
Remonta os clãs da colina.
 
Assim foi na Roma etrusca,
Ao bárbaro feito de escravo,
Com a cor ou gene que pulsa,
Mas nunca gera desagravo.
 
E as balas ainda perduram,
Mesmo que tenhamos razão,
Pois gueto judeu é loucura,
Enquanto a senzala é caixão.
 
O mundo precisa de cura,
Ao ranço de tanta discórdia,
Pois ódio é a fruta madura,
Que apodrece na esbórnia.
 
Será esse o fim dos humanos,
Reclusos em erros que teimam?
Porque nos achamos estranhos,
Nas ruas e brasas que queimam.
 
E assim vamos nos destruindo,
De tanto querer novas casas,
Mas o que estão construindo,
Só faz nossas vidas tão rasas.
 
De que adianta ter ouro,
Se tudo o tempo reclama,
E o fruto requer o besouro,
Como a panela quer tampa.
 
Pois tudo exige a medida,
E curva sem mais ou menos,
Pois água demais se vomita,
E pouca demais é veneno.