Poema negro sobre um fundo branco

É noite...

Após tantos milênios, hoje, finalmente,

o último racista abandonou a Terra!

Enfim, acabou-se o terror,

e, de agora em diante,

os homens, pela força de sua própria grandeza,

podem se considerar iguais!

O último racista abandonou a Terra!

Na negra solidão da subterrânea e eterna noite seu corpo pára

e se prepara ante a transformação final;

e antes da podridão de sua carne seu corpo se tornará negro...

Suas células apodrecerão,

apodrecerá seu orgulho

no eterno esquecimento...

Nesta longa noite a humanidade dá seu primeiro passo!

E amanhã,

quando acordar por fim,

irá compreender o que foi dito:

“E Deus criou o homem à sua imagem e semelhança...”.

Ainda será muito cedo

para que a humanidade compreenda Deus,

mas pelo menos já compreenderá o homem!

E tudo isto porque o último racista abandonou a Terra...

Já não existem mais brancos ou negros,

vermelhos ou amarelos,

e tampouco mestiços,

cafuzos, mamelucos ou sararás;

existem apenas homens,

seres humanos, indistintamente iguais,

perante o céu e a terra.

Nesta noite a paz volta a ter lugar sobre o planeta!

Acaba-se hoje, finalmente, o reinado do terror;

o último racista abandonou a Terra!

Pela recompensa do amor os justos a herdarão;

e todos serão homens,

absolutamente iguais,

pois que já não se questionará mais a diferença!

E deste modo não haverá “homens mais iguais que os outros!”

O último deles, dos mais iguais,

o último dos racistas

já não viverá mais sobre a Terra,

e por certo, também não no Céu...

E o “filho do Homem” poderá voltar à Terra...

Poderá voltar negro

ou de outra cor

que não o crucificarão em seu próprio berço...

Hoje, finalmente, o último racista abandonou a Terra...

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 14/11/2007
Código do texto: T736548