ACAUTELAMENTOS (A próxima dança)

Do tempo

quero ser o ângulo

de cronológicas lanças,

interstício

da partida e da chegada

do mensageiro,

que não me alcança,

diâmetro

de toda a circunferência

no compasso

do ponteiro.

Na eternidade,

da lateralidade

do balé

do mar, do ondular:

marcador pendular

do vai-e-vem da hora,

e da maré.

O alçapão fechado

da areia envidraçada

sem fugas

nem rugas,

sem fissuras:

só a centelha

da ampulheta

na hora enclausurada.

Do tempo quero ser o guardião

da sua razão,

da dúvida já aplacada,

o aluno mais aplicado,

do ensinamento

da iminência

dum momento,

no preexistir,

da imanência

que carrega

o seu porvir.

E se algo,

Cronos,

me conferir

da sua graça

dos anos

no terreno,

no terreiro

sagrado

da essência

ou profano

da aparência,

fico com o aguardo

oportunidade baldia,

ainda que tardança:

o melhor da festa

é esperar na fresta

da vida, a fantasia

que nos empresta

a próxima dança.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 16/10/2021
Código do texto: T7364977
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.