ACAUTELAMENTOS (A próxima dança)
Do tempo
quero ser o ângulo
de cronológicas lanças,
interstício
da partida e da chegada
do mensageiro,
que não me alcança,
diâmetro
de toda a circunferência
no compasso
do ponteiro.
Na eternidade,
da lateralidade
do balé
do mar, do ondular:
marcador pendular
do vai-e-vem da hora,
e da maré.
O alçapão fechado
da areia envidraçada
sem fugas
nem rugas,
sem fissuras:
só a centelha
da ampulheta
na hora enclausurada.
Do tempo quero ser o guardião
da sua razão,
da dúvida já aplacada,
o aluno mais aplicado,
do ensinamento
da iminência
dum momento,
no preexistir,
da imanência
que carrega
o seu porvir.
E se algo,
Cronos,
me conferir
da sua graça
dos anos
no terreno,
no terreiro
sagrado
da essência
ou profano
da aparência,
fico com o aguardo
oportunidade baldia,
ainda que tardança:
o melhor da festa
é esperar na fresta
da vida, a fantasia
que nos empresta
a próxima dança.