O SONHADOR DE ESPERANÇAS

Amanheceu

uma ansiedade bronzeada

com a tinta dum novo sol.

Pássaros afinam seus cantos

em auspiciosa melodia.

O vento sussura alvíssaras

no ouvido de inquietas folhas.

Ouve-se ao distante,

inaudível,

o salivante som

do ansiado regresso.

A alma pulsa

como se quisesse penetrar

na fresta do tempo

e adiantar seus ponteiros.

Tudo conspira

com a eternidade

do iminente momento.

Entrego-me à liturgia da espera.

As flores hibernam inodoras:

Tomei emprestado seu perfume;

Prometo devolvê-lo,

quando outros cheiros

se aboletarem na minha tez.

Meus olhos

vagueiam imprecisos,

em frêmito,

para encurtarem lonjuras;

Querem precipitar,

ávidos,

o que a saudade já desenhou

em antanhos pensamentos.

Horas chicoteiam

no dorso do tempo

as chagas de impacientes desejos.

O dia espreguiça-se

e começa a desabotoar-se.

Eu lá estou

na aflita penitência do aguardo.

Sucedem-se rotações

dos relógios,

na moldura que a circunferência

reserva para o reencontro.

(...)

E o dia passa,

a noite vem,

o sono me arrebata,

e o sonhar

me alcança

na inadiável necessidade

de mais um amanhã.

Na onírica terapêutica

de uma inconclusa chegada,

ainda não inventaram

nada melhor

para revigorar a esperança,

nos tempos que o amor

ainda não se despiu por completo

das incômodas

e tortuosas vestes

de suas ausências.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 14/10/2021
Código do texto: T7363087
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