360 GRAUS
Quando tu fores embora,
deixa um pouco de ti
na seiva da lua
para as noites insones.
Eu te sentirei
na brisa das constelações,
em todo o brilho
que cada estrela cadente
derramar sobre
os olhos da minha saudade.
Permita-me acalentar
sonhos perfumados
nas pétalas
que o vento
desfolhar do teu adeus.
Eu estarei aqui
em penitência,
vigiando-me em esperanças,
vagando-me em esperas.
Mas se o bálsamo
da tua fugidia presença
estiver impregnado
nos dedos da despedida,
poderei ainda assim
tocá-la, invísivel,
na lembrança,
tangenciado
as curvas do teu abandono
com algum laivo de ilusão,
nas retas,
nos arcos da
circunferência
que faz girar o mundo,
— o nosso mundo —
e me faz acreditar
que um dia
em cada volta
que tu deres
poderás, em alguma delas,
retornar ao ponto
onde tudo
em nós começou.